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Inflação aumenta a pressão sobre o BC: Especialistas preveem aperto

A alta de 0,95% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), registrada nos 30 dias encerrados na primeira metade de março, mostrou que as pressões inflacionárias estão mais fortes e disseminadas do que o previsto pelo mercado. Com isso, as apostas de um aperto monetário maior do Banco Central aumentam e as projeções de uma taxa básica de juros (Selic) mais elevada, acima de 13,50%, ganham força. Grandes bancos, como Credit Suisse, já passaram a projetar Selic de 14% no fim deste ano.

 

Antes, o banco suíço previa a taxa básica em 13,25% no fim do ano. A instituição revisou de 7% para 7,8% a previsão de alta do IPCA neste ano devido à surpresa do IPCA-15 – a prévia da inflação oficial. Além disso, manteve em um ponto percentual a previsão de alta da Selic em maio e passou de 0,50 ponto para 0,75 ponto a aposta de elevação da taxa básica em junho. Incluiu, ainda, mais uma alta em agosto, de 0,50 ponto.
 
Em relatório publicado, ontem, após a divulgação dos dados do IPCA-15, a instituição informou que, devido ao conflito Rússia-Ucrânia, previa apenas um repasse parcial dos preços internacionais dos combustíveis para os domésticos, “uma vez que o governo brasileiro, provavelmente, implementaria medidas para reduzir os preços dos combustíveis no mercado interno, o que agora parece menos provável”. Para 2023, o Credit elevou de 4% para 4,3% a projeção do IPCA, “devido ao maior impacto inercial da inflação deste ano”.
 

A alta do IPCA-15 de março foi a maior variação para o mês desde março de 2015, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A mediana das estimativas do mercado era de alta de 0,86%. No acumulado em 12 meses até março, o indicador avançou 10,79%, dado também acima da mediana das projeções dos agentes financeiros, de 10,67%.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic de 10,75% para 11,75% ao ano, e sinalizou nova alta de um ponto percentual na próxima reunião, em maio, para 12,75%. Mas, agora, com o IPCA-15 acima das projeções e bastante disseminado, é provável que um aperto maior do que o sinalizado ocorra, de acordo com a Capital Economics.

 

“Enquanto o Banco Central deu sinais de que pode haver apenas mais um aumento de um ponto percentual na taxa de juros no atual ciclo (para 12,75%), suspeitamos que o próximo aumento da inflação a leve a um pouco mais de aperto”, destacou William Jackson, economista-chefe para Mercados Emergentes da consultoria britânica, em relatório enviado aos clientes.
 
Ele esperava 10,5% de alta acumulada no IPCA-15 e elevou de 11,75% para 13,50% a aposta para a Selic no fim do ciclo de aperto monetário, diante da elevada disseminação na economia. O índice de difusão acelerou em relação a fevereiro e ficou em 75,5%.
 
As estimativas do mercado para o IPCA deste ano não param de subir há 10 semanas. Conforme dados do boletim Focus, do BC, a mediana das projeções do mercado para a inflação oficial está em 6,59%. Já as projeções para a Selic no fim do ano estão em 13%. Arnaldo Lima, diretor de Estratégias Públicas do Grupo Mongeral Aegon (MAG), prevê a taxa básica encerrando o ano em 13,25%, acima da mediana do mercado.
 

De acordo com dados do Itaú Unibanco, o IPCA de março deverá acelerar em relação à alta de 0,99% de fevereiro, passando para 1,31%. Para abril, o banco prevê avanço de 1,11% no indicador e, em maio, recuo de 0,26%. “Os próximos dois meses continuarão pressionados pelos reajustes recentes de gasolina, gás de botijão e diesel na refinaria pela Petrobras, considerando que o repasse tem sido mais alto e mais rápido para o consumidor. O pico da inflação deve ficar ligeiramente abaixo de 12% em abril. Esperamos alívio na leitura de maio, com mudança da bandeira de escassez hídrica para amarela”, destacaram as economistas do Itaú Julia Passabom e Luciana Rabelo.

Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, calcula um IPCA no fim do ano para algo em torno de 8%, “o que exigiria uma Selic também superior a 13,5%”. Segundo ele, “com Selic até 13,5%, o IPCA superaria 7% em 2022”, prevê o especialista. Pelos cálculos dele, há um teto para o IPCA de 7,32%, em 2022. “A Selic deveria atingir uma taxa superior à 13,75% para que a inflação não supere 7%”, avalia.

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Desempregados lutam por chance num Brasil de poucas oportunidades

O caminho árduo e o olhar distante pelas ruas de Belo Horizonte demonstram misto de tristeza e preocupação para Jackson Gonçalves, de 31 anos, um morador entre tantos outros do Bairro Serra que lutam para encontrar  trabalho fixo. São praticamente cinco anos sem carteira assinada, o que levou Jackson abrir mão de desejos e conquistas para sua família. O drama dele se repete em lares dos cerca de 12 milhões de brasileiros que vivem à procura de emprego, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Jackson pertence à faixa etária que mais sofre com a desocupação desde 2020. Entre os trabalhadores de 25 a 39 anos, o percentual de desempregados atingiu a marca de 35,2%. Já os jovens de 18 a 24 anos sem ocupação correspondem a 30,8% do total, como aponta a pesquisa Pnad Contínua do IBGE, referente ao quarto trimestre do ano passado.A dificuldade se agrava já que, quanto mais tempo o trabalhador passa desempregado, mais complexa será a reinserção no mercado de trabalho. No último emprego fixo, Jackson foi  auxiliar de limpeza, em 2016, numa empresa de informática. A demissão dele ocorreu devido a cortes de despesas. Desde então, contou com a ajuda da mulher, Gislene, que trabalha como diarista, para garantir a alimentação do casal e dos dois filhos pequenos. Para aumentar a renda da família, ele faz serviços como auxiliar de pedreiro, carrega móveis e faz pequenos favores em troca de gorjetas. No fim do mês, recebe, no máximo, R$ 800.

“Às vezes, você tem uma oportunidade e espera ficar um bom tempo trabalhando, mas a vaga só dura dois meses. Foi assim comigo. Mandei uns currículos, mas o mercado ficou muito seletivo. Tem muita gente procurando emprego, e isso impede que todos tenham oportunidades”, afirma Jackson, que atribui a dificuldade de inserção ao mercado à falta de estudo. Ele cursou somente até a sétima série do ensino fundamental.

Em outra face da mesma dificuldade, a estudante Giovana Lima, de 15, também encontrou barreiras ao procurar uma vaga de menor aprendiz na área administrativa. Há seis meses ela vem tentando vaga, mas só encontra negativas. Nesse período, fez cursos de informática para se qualificar melhor. “A idade é um fator importante, porque quase nunca dão chance para quem nunca trabalhou. A pandemia também complica, pois muitas empresas deixaram de contratar menores. A economia está devastada. Deveriam abrir mais vagas, o que incentiva as pessoas a comprarem e consumirem mais. Logo, tudo se recuperaria”, avalia.
Para quem tem mais idade, muda o motivo, mas o problema da falta de trabalho se repete. Paulo Roberto de Souza, de 57, tenta novo emprego na construção civil. Com apenas a quinta série, ele está há três anos desempregado. Separado da mulher desde o ano passado, passou a morar sozinho nas ruas da capital, vivendo de lavar e cuidar de carros na área central. Para ele, o fato de não ter conquistado nova oportunidade se deve à idade. “Procuro emprego todos os dias, mas, como passei dos 50, isso me impede de conseguir algo mais concreto. Não tenho tanto pique como antigamente para pegar um serviço pesado. Não tenho tanta escolaridade e isso dificulta. E também não tenho quem me indique uma oportunidade”, enumera.
Segundo o analista do IBGE Alexandre de Lima Veloso, o que pesa contra os trabalhadores mais jovens é justamente a falta de experiência: “A inserção no mercado de trabalho da força mais jovem historicamente sempre foi mais difícil. Com a pandemia, tivemos a redução dos empregos formais. Quem já estava inserido e conseguiu trabalhar de casa foi menos afetado do que quem estava buscando nova oportunidade, como é o caso de trabalhadores nessa faixa. Essas pessoas trabalhavam há menos tempo, com menos qualificação e experiência, o que ajuda a explicar o cenário negativo”.
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Intenção de consumo das famílias de BH diminui em fevereiro

As despesas de início de ano, como IPTU, IPVA e material escolar, juntamente com o cenário econômico desfavorável, contribuíram para que a Pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), realizada pela Fecomércio MG, demonstrasse retração em fevereiro.

O censo registrou 69,9 pontos, uma queda de 1,5 ponto em relação ao mês de janeiro, quando o indicador apontou 71,4 pontos. O analista de pesquisa da Fecomércio, Devid Lima, destaca que o encerramento dos contratos temporários de emprego é outro fator que justifica a contenção das famílias no momento de decisão de compra.

O que dizem os indicadores

Na avaliação de fevereiro, a queda do ICF foi influenciada pelos itens que compõem o indicador, que apresentaram retração em comparação ao mês de janeiro: emprego atual (105,6 pontos para 103,1); perspectiva profissional (93,0 pontos para 89,4); renda atual (82,9 pontos para 81,5); acesso ao crédito (70,7 pontos para 68,6); e compra de bens duráveis (23,9 pontos para 22,2). A confiança das famílias ainda segue abaixo da fronteira de satisfação (100).

Em contrapartida, o indicador de consumo apresentou alta de 49,9 pontos em janeiro para 51,0 em fevereiro, enquanto a perspectiva de consumo se manteve estável com 73,6 pontos. Devid Lima afirma que, mesmo com a retração na intenção de consumo das famílias, ainda existe uma esperança para consumir produtos e serviços. “Com o fechamento dos estabelecimentos nos últimos anos devido à pandemia, ainda há uma demanda reprimida das pessoas que estão aproveitando o momento de retomada para adquirir bens e voltar a frequentar os estabelecimentos”, analisa.

 

Fonte: www.em.com.br